#12 Jura do Pote

 


"(...) Meu nome é Juracy Monteiro dos Santos, denominado de Jura do Pote. Jura do Pote surgiu num momento em que Hortolândia ainda era bairro de Sumaré, um bairro sem nenhuma expressão cultural ou pouca expressão cultural (ainda bairro, não era cidade). Naquele momento cheguei da Bahia (vim para cá em 1985), analfabeto de pai e mãe. E eu sempre repito isso em todos meus trabalhos para que fique bem firmado que é importante a força, é importante você acreditar, porque você só vence, se você acreditar. As pessoas não te dão nada se você não acreditar. 


Sou do Quilombo de Parateca, região do Rio São Francisco mais precisamente à direita do rio, aproximadamente a 900km de Salvador. Não é um quilombo que tenha história por batalhas sangrentas, mas é um quilombo reconhecido como Quilombo de Parateca e Pau D’Arco no município de Malhada, de onde eu venho e estou aqui desde 1985. Os meus pés, o meu corpo, a minha alma está fincada no meu barro chamado Quilombo de Parateca. meu trabalho é sempre pensando que as raízes que me sustenta me dá a oportunidade de carregar a minha trouxa na cabeça.


Então, naquele momento eu tinha que ter um grito e uma marca. O meu grito foi desenvolver uma habilidade artística e esportiva que não fosse copiada de ninguém. Daí surge em 1988 (mais ou menos): eu comecei carregando uma melancia da feira (por 1 ano e dois meses) por conta de tanto preconceito que sofria e aí recebia muitos apelidos, me chamavam de Carmen Miranda, entre outros, e tudo aquilo era importante para o meu fortalecimento. Depois eu percebi que a melancia era algo que não era tão forte dentro da minha história como essa questão do pisar no chão, ter o pé no barro de onde eu vim. Pisador nas olarias fazendo as panelas de barro e os potes. Tive a ideia de trazer meu primeiro pote do meu quilombo - era um pote de iáiá - e trouxe na ideia de pôr água para beber, mas quando foi um dia a Hortolândia (já era municipalizada),já tinha se passado muito tempo, ma antes disso eu comecei a andar no bairro com tudo que eu tinha em casa (trouxa, fazia trouxa de pano ponhava na cabeça) andava pelo bairro, fazia graça, as algumas pessoas riam outras colocavam defeito. E foi passando um tempo até que eu comecei a fazer apresentações na rua do meu bairro (eu morava na favela 2A). E eu fazia apresentação para criança e vez em quando aparecia um adulto ou outro e era assim sempre os fins de semana à tarde. As crianças gostavam e elas começaram a sentir falta nos dias em que eu não aparecia ali e, eu comecei a fazer também a alegria nos aniversários da comunidade. Vestia algumas roupas com panos que tinha em casa (fazia marril ou alguma coisa parecida com roupa) e fazia meus números e era muito diferente. O pessoal (outras famílias)  começou a me convidar para fazer animações nas festas, então eu era um artista naquele momento. Eu não dançava na época, eu ia lá colocava o pote na cabeça fazia umas fotos e isso começou a me dar vontade de fazer outras coisas. Foi aí que eu tive a ideia de fazer um pote colorido pra deixar na minha casa pra quando viesse alguém ou quando fosse algum aniversário eu tirar fotos. Pois bem, fiquei sabendo que tava tendo uma corrida de rua em Campinas e lá era muito chamativo, que era a 7ª Corrida Integração  e  eu tive a ideia de ir pra corrida porque eu queria muito sair no jornal ou que alguém tirasse um retrato meu e fui pra corrida. Como eu já tava caminhando há muito tempo com coisas na cabeça eu queria me desafiar e aí fui pra corrida com um coco na cabeça. Corri a corrida ,era na Francisco Glicério, com o coco na cabeça. Ali era meu ponto de partida para eu me sentir vivo, me sentir importante e começou ali. Então a corrida e a dança do Jura do Pote se inicia ali no Largo do Rosário que é onde era o início e fim da Corrida Integração. 


Hoje, eu sou um artista, graças a Deus, com reconhecimento municipal, estadual, federal e até se brincar, internacional, pois através do meu pote há mais de 30 anos eu já tive a oportunidade de correr várias corridas de rua pelo país. Já fiz parte de alguns momentos importantes na história. Já saí em algumas matérias de mídia muito importantes como Globo Esporte, Revista O2 e, em 2016, fui um dos condutores da tocha olímpica em Americana. Recentemente, fui escolhido por minha cidade querida e maravilhosa Hortolândia como uma das caras da cidade, será feito um trabalho belíssimo com a arte lambe-lambe onde vai ter uma foto minha estampada em um mural. Então são muitas coisas importantes e eu tenho que dizer que participar deste documentário do Urucungos foi uma coisa muito bacana (...) e eu diria que esse documentário, ele costura as raízes da minha história, porque eu estava ali dentro de uma cumbuca de um povo que ferve, de um povo que acredita, de um povo referencia em Campinas (o Urucungos). (...)  Me senti muito honrado, fiquei muito feliz. (...)"


- Jura do Pote



Energia de Palmares


Inspirado pelas energias de Zumbi, de Palmares e da Natureza, Jura nos apresenta uma performance repleta de espontaneidade e de movimentos livres, expressando sua sensibilidade e personalidade.




Legados do Meu Quilombo


Neste vídeo Jura nos conta com toda a sua subjetividade um pouco de sua trajetória acompanhada de uma performance imersa beleza e expressividade. Com movimentos autênticos e livres nos encanta com sua arte. Jura transborda sua determinação e seu amor pela cultura popular, trazendo reflexões da importância de manter viva as manifestações culturais a transmitindo a novas gerações.